domingo, 1 de novembro de 2020

Estatística

Entrei para a estatística da COVID. Sim, entrei, mas não sou um número, assim como não são todas as pessoas que foram infectadas, as assintomáticas, as que tiveram ou tem sintomas leves, as que sofreram e as que partiram. E por mim e por todes, faço esse relato, que encerro com um pedido.

Antes de você seguir a leitura, quero dizer que estou bem, tenho sintomas leves e me recupero em casa, onde ficarei quietinha até que não corra o risco de infectar alguém.

Comecei a sentir dores de cabeça e pelo corpo, cansaço e uma certa apatia. Fiquei desconfiada que poderia ser COVID, então decidi me isolar totalmente, sem as saídas esporádicas para as compras. Além do desconforto no corpo, havia um incomodo causado pela dúvida, afinal vivemos num país que pouco testa.

Dias depois do início dos sintomas soube que havia uma campanha para realização de testes na UniSant'Anna, uma universidade particular aqui de Sampa. Era a oportunidade para sair da zona da dúvida, então me encorajei e fui até lá. Imaginava uma longa fila, mas fui surpreendida ao lá chegar e ser atendida imediatamente. Uma picadinha no dedo e 10 minutos de espera. Internamente havia uma estranha mistura de serenidade e apreensão. Eis que sou chamada para uma nova coleta. Frio na barriga e a tranquilidade se recolheu, dando espaço para a tensão. Mais 10 minutos para ter a confirmação de que, apesar de todos os cuidados, o vírus que domina o planeta havia me pego virando a esquina.

Enquanto ouvia as instruções da líder da equipe que fez o teste, minha cabeça estava dividida entre a escuta e a elaboração de uma lista mental com as pessoas com que havia interagido nos dias anteriores. Apesar de, desde o início da pandemia, eu respeitar o isolamento, usar máscaras e adotar todos os protocolos de higienização, eu poderia ter infectado alguém. E esse foi o fantasma que me assombrou naquele momento.

Ao sair do local do teste, fui direto para uma UBS. Assim que cheguei, informei que havia testado positivo para COVID e que fui instruída a procurar avaliação médica. De imediato, uma enfermeira me atendeu, explicando que ela faria a intermediação com o médico de plantão, pois ele é do grupo de risco. Em pouco tempo eu saia da unidade orientada sobre a inexistência de medicamentos para a cura*, mas, com cartelas de Dipirona para as dores e Azitromicina para prevenção de infecções de bactérias oportunistas.  Levei para casa também o sorriso de Natalia, a enfermeira cuidadosa e bem humorada, que dá um duro danado para fazer o melhor num SUS sucateado por esse governo que quer privatizar seus serviços.

Há uma semana sigo isolada e melhorando a cada dia. E hoje, senti vontade de fazer esse relato, especialmente para destacar alguns pontos nele contidos.

Vou começar pelo atendimento do SUS que foi impecável: rápido, preciso, eficiente e, claro, gratuito. O SUS que esse (des)governo quer privatizar. Esse SUS, que mesmo sucateado, segue bravamente na linha de frente do combate ao Coronavírus, sem deixar de prestar os outros importantes serviços que presta (dá um google que vai ser fácil saber). Toda a população brasileira, rica ou pobre, tem direito à saúde universal e gratuita, isso é o SUS que deve ser protegido da sanha privatista de Paulo Guedes.

Agora quero falar sobre a testagem, essa que o Tedros Adhanom recomenda a todos os países como forma de redução do contágio e que Jair Bolsonaro prefere não investir. Lá no início do texto eu falei sobre o atendimento imediato que tive quando fui fazer o teste. Para mim, claro, foi ótimo, não enfrentei fila e tudo foi rápido e eficiente. Ocorre que não pode ser bom para poucas pessoas. Não havia fila porque não houve divulgação, apenas quem conhecia alguém envolvide, que foi o meu caso, que teve a sorte de fazer o teste seguro e gratuito. 

O resultado do teste veio num papel com a chancela da PMSP, o que me faz crer que o governo municipal estava envolvido na ação. Então, pergunto:  Como pode isso acontecer? Como se mobiliza recursos e pessoas para realizar atividade fundamental para controle da pandemia e a população não é informada? 

E para terminar, vou especular sobre o momento do contágio. Fazendo a cronologia, provável e ironicamente fui infectada num dia que fui ao INSS entregar uns documentos da minha mãe. Em plena pandemia o órgão exigiu que uma pessoa de 83 anos atualizasse o seu cadastro. Para evitar que ela corresse o risco de contaminação, fiz uma procuração e fui. Foi o único momento desde março que estive em um local fechado, com ar condicionado e com bastante gente. Então, intuo que tenha sido contaminada ali. 

Esses 3 destaques que faço estão diretamente ligados aos governantes desse país. Então, quero aproveitar para pedir para você refletir bastante sobre o peso do seu voto. Do voto que você vai dar em 15/11 e de todos os que já deu na sua vida. 

Vivemos um momento de muitas incertezas, mas não há dúvidas de que temos o poder de escolher as pessoas que tomam as decisões. Escolha bem, escolha pensando no coletivo, no bem comum.

Pesquise, converse, leia, reflita, não deixe que o vírus da ignorância, da apatia e da indiferença lhe contaminem. Vote!!! Vote consciente!!!
 






* Quando fui informada na UBS sobre a inexistência de medicamentos para a cura da COVID, brinquei com a enfermeira perguntando se não iria me dar Cloroquina, ela entendeu a piada, riu e em seguida falou: você não tem ideia de quantas pessoas fazem a sério essa pergunta. 


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