domingo, 15 de abril de 2012

Os Faraós do nosso tempo

No Antigo Egito os reis gozavam do status de Deus na Terra. A eles era atribuído o título de Faraó. 

O Faraó era um monarca todo poderoso, rodeado de uma corte de servos e de um povo que seguia cegamente os seus ditames. Mais que um simples rei, o faraó era também o administrador máximo, o chefe do exército e sacerdote supremo. 

Como administrador arrecadava os impostos e decidia a forma que seriam utilizados. Grande parte da arrecadação ficava com a própria família do Faraó. Era utilizado, entre outras coisas, para a construção de palácios, monumentos, compra de joias, etc.. 

Eram, em sua maioria, déspotas e escravizavam seus e outros povos. E seus seguidores não questionavam seu poder, realmente os consideravam como deuses encarnados. 

À época o ser humano não tinha plena consciência de sua individualidade, de sua capacidade de decisão, tanto que se um rapaz fosse filho de artesão, artesão seria. A capacidade de transformação das condições de vida que temos hoje em dia não era algo considerado, imaginado. Então, seguir ao líder máximo era absolutamente natural e inquestionável. 

Em nosso tempo, depois de séculos de um processo de individuação temos a capacidade e condição de nos colocarmos como indivíduos conscientes e donos da própria vontade. E sabemos tudo o que há de bom e de ruim nisso. 

Porém, mesmo conscientes de sua individualidade há muitos que se deixam escravizar pelos Faraós do nosso tempo. 

Os “deuses” encarnados atuais respondem pelo nome Apóstolos, Bispos, Missionários, etc. Líderes das igrejas que proliferam no mundo e tem no Brasil um grande celeiro. 

A recente briga entre o “Bispo” Edir Macedo e o “Apóstolo” Valdomiro Santiago traz a tona e ilustra muito bem a relação que os seguidores tem com esses líderes religiosos. 

Fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo valendo-se do fato de ser proprietário da TV Record, veiculou num programa da emissora uma reportagem sobre o enriquecimento de Valdomiro Santiago, que deixou a IURD para criar sua Igreja Mundial do Poder de Deus. 

O Edir Macedo, que é alvo constante de investigações sobre enriquecimento ilícito, deve ter ficado bastante incomodado com o carisma do ex-aliado, afinal desde a fundação da Igreja Mundial do Poder de Deus muitos de seus fieis seguram Valdomiro, destinando seus dízimos para outros cofres. Então, pode-se inferir que a acusação feita no jornalístico de sua emissora não tem apenas a boa intenção de denunciar irregularidades que causem danos ao fisco e ao povo. 

Em resposta, o autointitulado Apóstolo Valdomiro, gravou em estúdio um lacrimoso depoimento em que diz que terá que ir à rua com seu povo. Aqui ele demonstra ser um Faraó do nosso tempo, dizendo que entrega milhares pratos de comida, passagem para pessoas que querem ir para seus Estados, remédios... Com expressão consternada diz: julguem meu trabalho, meu ministério, a minha conduta... eu só quero ajudar, só quero trabalhar, eu só quero pregar o evangelho. Eu não suporto mais o que estão fazendo comigo... eu vou convocar o meu povo. 




Esse povo sobre o qual fala Valdomiro Santiago são os seguidores de sua igreja, pessoas que tal qual o povo do Antigo Egito não questionam as palavras de quem está no púlpito conclamando-os a ter fé cega e comprar seu pedacinho do céu com o pagamento do dizimo. 

Os seguidores de igrejas como a Universal do Reino de Deus, de Edir Macedo; Mundial do Poder de Deus, de Valdomiro Santiago e Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Silas Malafaia agem cegamente, assim como o povo do Antigo Egito que confiava ao monarca a condução de suas vidas. Porém, vivemos em outra época, num tempo em que o ser humano tem consciência de sua individualidade e tem a capacidade de questionamento que, infelizmente, parece não estar sendo bem utilizada por milhares e milhares de pessoas. 

Em nome de Deus e de Jesus Cristo esses homens seduzem seus fieis e enriquecem a custa das doações, inclusive de quem dispõe de poucos recursos, como pode-se constatar no vídeo abaixo:




Em 1995 a TV Globo exibiu uma reportagem em que apresentava Edir Macedo “ensinando” a cúpula da sua igreja a convencer os fieis a fazer as doações. Sem entrar no mérito e nos interesses da Rede Globo em abalar a imagem do dono da emissora de TV que ameaça sua audiência, a matéria mostra o descaso do líder da IURD com relação aos fieis. 



Não seria absurdo pensar que após a divulgação dessas imagens que seus seguidores se revoltassem e abandonassem a igreja. Mas, não foi isso que aconteceu, pois 17 anos após a denúncia, o que se vê é uma igreja fortalecida, inaugurando templos monumentais que sempre lotam em dias de cultos. E isso não acontece somente no Brasil, essas congregações se alastram mundo afora angariando cada vez mais adeptos. Pessoas que “terceirizam” o controle e o destino de suas vidas e acreditam que suas conquistas são fruto dessa fé cega.