domingo, 26 de junho de 2011

Mais uma vez Mato Grosso

Sete meses depois de minha última estada em São Felix do Araguaia, voltei para começar mais uma turma do Programa Germinar. Durante a longa e sacolejante viagem não havia imaginado que a emoção me dominaria no momento de reencontrar essa terra. Porém, assim que coloquei os pés na ardente pista de pouso do aeroporto da pequena cidade meu coração quase parou, senti um nó na garganta, um aperto no peito e lágrimas brotando de meus olhos.
Debaixo do sol escaldante do início da tarde, percorri a estrada de terra até alcançar o rio que dá sobrenome à cidade. O Araguaia nos primeiros momentos da época da seca já apresenta suas praias de areias douradas. Avanço pela avenida que margeia o rio e me sinto como se revisse um velho e querido amigo.
Desde que conheci a região costumo dizer que é possível sair do Mato Grosso, mas o Mato Grosso não sai de você. E esses primeiros instantes só fizeram confirmar esse meu chavão.
Mas, não é possível falar de São Felix do Araguaia no singular, pois é uma terra múltipla, coalhada de diversidades que se revelam em cada detalhe. São indígenas de vários povos, migrantes e imigrantes, gente que está só de passagem e outros que chegam com a idéia de ficar. Difícil mesmo é encontrar alguém nascido por lá, afinal a cidade completou 35 anos recentemente, em maio de 2011.
Nessa passagem, tive a oportunidade de conviver bem de pertinho e amiúde com representantes de 3 povos indígenas: Karajá, Xavante e Kĩsêdjê (Suiá). Além desse grupo que muito me ensinou, pude saber um pouco mais sobre a vida nos assentamentos e sobre o trabalho das ONGs que atuam firmemente nas questões socioambientais
A turma do Germinar, 3a. na região, foi formada com muita fé e teimosia, como diria Pedro Casaldaliga, pelo pessoal da AXA - Articulação Xingu Araguaia. É sempre um risco esquecer o nome de alguém ao fazer agradecimentos, mas não posso deixar de me referir à incrivel força que a Vânia, Carol, Natalia, Claudinha, Ana Lucia, Lucilene e Carlos deram para que fosse possível chegar e encontrar tanta gente boa e interessada em se desenvolver e com isso contribuir com o desenvolvimento dessa terra tão necessitada de diálogo.
Não bastasse a maravilhosa experiência do Germinar, ainda tive a oportunidade de visitar a Aldeia Santa Isabel, do povo Karajá. Em território do Estado do Tocantins, na Ilha do Bananal – a maior ilha fluvial do mundo – a aldeia abriga cerca de 2000 pessoas que vivem da caça, pesca e pequenas roças. Conheci a escola, que segue o calendário dos Tori (Brancos) e introduz disciplinas que abrangem a cultura do povo. Eles falam português muito bem, mas na aldeia, entre si, se comunicam em seu idioma.
Fui ciceroneada pela simpática Waxiaki, pedagoga formada em São Paulo e é a atual diretora da escola na Aldeia. No final do giro, peguei emprestada a bicicleta da Hataiaki, irmã de Waxiaki e pedalei feito criança até voltar à margem do Araguaia e subir na voadeira que me levaria de volta à São Felix.
Pois é, estou de volta ao Mato Grosso. Feliz da vida por poder fazer minha pequena parte na revolução integradora que acredito ser possível.