Mas, me pego a pensar sobre o que consideramos normal?
Naquele cenário pré-pandemia, normal era a desigualdade, trabalho precarizado ou análogo à escravidão e difícil acesso a serviços essenciais como saúde e educação a quem está na base da pirâmide, o que se refletia em altos índices de pobreza, num moto contínuo de “o de cima sobe, o de baixo desce”, como diz a música.
Além disso, na tal normalidade o consumismo é incentivado, o mais é melhor, o se não tem para todo mundo, bora lá garantir o meu, seja o álcool em gel ou o pacote de arroz. E o pior de tudo: o conformismo faz com que se aceite as coisas como elas são. E olha o moto contínuo de novo aí gente!
Naquele normal de antes era correria, muito trabalho sem significado, pressão vivida em prédios de vidro apinhados, ruas lotadas de pés e carros apressados, poluição de todo tipo.
Era mais tela que pele, relações líquidas como dizia o Zyg.
Tinha preconceito, discriminação e violência.
Normal era fechar as portas para refugiades que não sucumbiam aos barcos que adernavam. Normal, aliás, se tornaram as guerras e a fome.
Antes do Coronavírus e de suas consequências, também havia muitas coisas bacanas acontecendo. Mesmo que inserido no sistema, havia e ainda há, um movimento que busca quebrar essas correntes da normalidade aprisionante e tóxica. Talvez essa parada seja propícia para que nos movimentemos e passemos a sentir as correntes que nos prendem. Rosa de Luxemburgo se orgulharia de nós.
Então, qual é o próximo normal? O que você, eu e todes podemos fazer agora que estamos em isolamento e a dimensão do tempo parece ter mudado.
Que “normal” queremos criar?
Que correntes queremos quebrar?
Que muros queremos derrubar?
Que pontes queremos construir?
Com nossas individualidades presentes e fortes, que coletivo podemos formar?
Operários - Tarsila do Amaral - 1933 |