quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

São Paulo, é preciso!

São Paulo é como o Rio de Fernanda Abreu, uma cidade de cidades misturadas, cidades camufladas.
É preciso olhar agudo para além das ruas coalhadas de carros, motos, bicicletas, catadores com seus carinhos e cachorros.
É preciso mente aberta para compreender as tantas gentes que habitam os baixos dos viadutos e se reviram o lixo a cata de tesouros de alumínio e papelão.
É preciso olhos doces para se encantar com as flores que resistem ao concreto e embelezam ruas.
É preciso ouvidos livres para se deliciar com a infinidade de sotaques, línguas, cantos que povoam os ares
É preciso uma parada para ver a correria das avenidas: terno, jeans, saltos, tênis circulando apressados nas calçadas, no Metrô, atrás dos ônibus.
É preciso respirar o ar dos parques, praças e ruazinhas escondidas sobre a copas de velhas árvores.
É preciso caminhar pelos bairros, reconhecer vizinhos e sorrir.
É preciso paciência até que o verde acenda e enquanto vermelho está, olhar para os lados e abrir-se para as surpresas. É quase certo que alguma surgirá.
É preciso andar de ônibus e observar o vai e vem um pouco mais do alto.
É preciso provar os sabores que se espalham em bandeiras que tremulam o orgulho dos migrantes,  imigrantes e passantes.
É preciso pelo menos uma vez cruzar do extremo sul ao extremo norte, que segundo o Google somam 80 km. E fazer o leste - oeste que tem distância menor, mas ainda é uma enormidade.
É preciso comer pastel de feira com caldo de cana.
É preciso ver futebol nas ruas, nos estádios. E, também, os outros esportes menos populares, mas que cativam muita gente.
É preciso conhecer os pequenos teatros que dão espaço a grandes e desconhecidos artistas.
É preciso ir aos cinemões e cineminhas. Ver filme e depois sentar no boteco da esquina e ver a diversidade desfilar.
É preciso cruzar as marginais de madrugada só pelo prazer de não parar (mas, não dá para garantir).
É preciso circular pela cracolândia e valorizar a própria vida. E lá aproveitar para ver a discrepante beleza da Sala São Paulo, Pinacoteca e Estação Pinacoteca, Museu da Língua. Por ali, vale um passeio observador no Parque da Luz.
É preciso dizer bom dia, boa tarde, boa noite a toda gente sem esperar resposta, pois quando um sorriso cruza com o seu é dádiva, efémero e eterno encontro.
É preciso sair na janela vez ou outra e ver o quadro vivo mudar a cada instante.
É preciso curtir as mudanças da paisagem pela janela do carro.
É preciso ver arranha-céus sombreando teimosos casarios.
É preciso andar pelo velho centro de edifícios quase centenários, como o imponente Martinelli.
É preciso acompanhar os passos lépidos de quem se arrisca às compras na região do Mercadão e ao andar vidrado de quem prefere a Oscar Freire.
É preciso conhecer as grandezas e as miudezas. As aparentes e as escondidas.
É preciso ser arguto para ler as entrelinhas da metrópole.


Vista do patio do Liceu Sagrado Coração de Jesus, em plena cracolândia.
O céu dramático foi presente de São Pedro no final de um dia de trabalho.