Surreal, segundo o Dicionário Houaiss é vocábulo que denota estranheza, transgressão da verdade sensível, da razão.
Considerando a definição e as notícias de nosso tempo, sobretudo, aquelas que falam dos nossos políticos, proponho mudar o nome oficial do país para República Surrealista do Brasil.
Os vereadores de Campinas aprovaram uma moção "contra a inserção de questão de temática de ideologia de gênero, por meio de pensamento de Simone de Beauvoir, na prova do Enem de 2015".
Os parlamentares se revoltaram contra uma questão Enem que trazia a seguinte afirmação da escritora e filósofa feminista Simone de Beauvoir "A gente não nasce, mas se torna mulher."
Não bastasse isso, em junho, a Câmara de Campinas proibiu o Executivo de incluir o tema das discussões de gênero, de maneira direta ou indireta, no currículo escolar da rede municipal.
Tão progressistas, não?
E o que falar daqueles que vivem em Brasilia? Vejamos alguns exemplos.
Heráclito Fortes (dep. fed. PSB-PI) quer que os ventos sejam patrimônio da União, para o Estado receber royalties a partir da geração de energia eólica.
Gilberto Nascimento (dep. fed. PSC-SP) quer que doadores de sangue tipo O sejam privilegiados e tenham dois dias de folga do trabalho. Os demais tipos só teriam um.
Luiz Nishimori (dep. fed. do PR-PR), defende isentar de impostos de importação, Cofins e ICMS todos os artigos voltados para a prática de golfe.
Esses são risíveis, porém há os preocupantes, como o projeto de lei que cria o Estatuto da Família, o deputado federal Diego Garcia (PHS-PR) aprovado em comissão especial da Câmara, que define como família a união entre homem e mulher por meio de casamento ou união estável, ou a comunidade formada por qualquer um dos pais junto com os filhos.
Soma-se a arbitrariedade do Dep. Eduardo Cunha e sua PL 5069/2013, que tipifica como crime contra a vida o anúncio de meio abortivo e prevê penas específicas para quem induz a gestante à prática de aborto. É certo que tudo o que gira em torno do aborto é polêmico, mas imagine uma mulher estuprada, como ocorre 50.000 vezes por ano no Brasil, que vai ao hospital pois sente dores e teme ter engravidado do estuprador. Pois bem, se aprovada a lei, ao chegar ao local, não poderá ser atendida sem antes ter ido a uma delegacia e registrado boletim de ocorrência. O que o projeto de lei propõe que a mulher se sujeite ao constrangimento de um narrar o traumático episódio para um delegado antes de buscar orientação e cuidados médicos.
Outro tema polémico é o da PEC (proposta de emenda constitucional) 215/2000, do Dep. Almir Sá, que propõe transferir do Executivo para o Congresso a atribuição de reconhecer Terras Indígenas, Unidades de Conservação e Territórios Remanescentes Quilombolas. Ela deve paralisar pelo menos 228 demarcações de Terras Indígenas e é considerada inconstitucional. A PEC foi aprovada em Comissão Especial da Câmara e agora a matéria segue para o Plenário da Câmara e posteriormente para o Senado.
Uma visita ao site da Câmara dos Deputados permite conhecer os projetos de lei em tramitação e participar de enquetes ( http://www2.camara.leg.br/enquetes/listaEnquete). Já que elegemos represetantes tão conservadores e aplicados em defender seus próprios interesses, o mínimo que podemos fazer agora é pesquisar e nos manifestarmos quando algo nos soar escabroso.