domingo, 2 de novembro de 2014

Democracia

Nasci dois anos após o Golpe Militar de 1964 e dois antes do AI5. Cresci durante a ditadura militar e fazia parte da parcela da população que era iludida e não participava da vida política. Meu pai era um sujeito boa praça e tranquilo, não se metia nessas questões. Minha mãe se limitava a cuidar da família. 

Mas, minha alma percebia que havia algo mais que o tocar dos dias mostrava, achava estranho certos assuntos que pareceriam proibidos. Queria saber, por exemplo, o que significava a tal abertura que o General Ernesto Geisel alardeava, dizendo-se comprometido com a desmontagem dos aspectos mais duros da censura e da repressão e com a introdução paulatina e segura de mecanismos mais democráticos. 

Eu não tinha com quem conversar para entender esses assuntos e fui seguindo minha infância e inicio da adolescência como todos nessa época da vida vivem. Então, tive uma professora de história magnifica, Heloisa Moutinho, que despertou em mim o interesse em olhar a política de maneira crítica. Passei a ter mais clareza sobre o que se falava sobre tortura, artistas exilados, prisões arbitrarias, etc. Mesmo assim, era tudo muito confuso, pois pouco ou quase nada se falava na mídia. Parecia que existiam mundos paralelos: um em que se queixava do governo militar e da liberdade subtraída e outro que os meios de comunicação mostravam. Aliás, muito parecido com o que vivemos atualmente.

Então, no início da década de 80, mais precisamente em 1983, deu-se inicio ao movimento das Diretas Já

Eu decidi que iria participar. E participei! 

Eu fui às ruas e conheci histórias de gente que havia perdido familiares durante a ditadura.

Eu fui às ruas e ouvia recomendações para não ir, pois correria o risco de ser presa e torturada. 

Mesmo assim, eu e milhares de pessoas foram lutar para que a democracia se restabelecesse.

A eleição direta não foi aprovada naquela ocasião, mas a força popular abriu caminhos para que em 1985 o primeiro presidente civil desde 1964 fosse eleito, mesmo que indiretamente. E 4 anos depois, em 1989 o povo brasileiro pode ir às urnas.  E assim é até hoje: podemos escolher livremente nossos representantes.

Por isso, fico assustada quando os descontentes com os resultados das urnas em nossa mais recente eleição, pedem uma intervenção militar.

O que é isso, minha gente? 

Isso é falta de memória ou de leitura? Talvez os dois, ou ainda, o que é pior: cegueira de quem não quer ver o quanto evoluímos com a democracia.

Salvar a democracia é aceitar o resultado das urnas e acompanhar de perto os eleitos e exigir que cumpram seus mandatos de maneira a servir o todo e não a interesses de poucos, é fazer oposição com proposição.

O resto, me desculpem, é puro mimimi!!!