sábado, 31 de outubro de 2015

Surrealidades

Surreal, segundo o Dicionário Houaiss é vocábulo que denota estranheza, transgressão da verdade sensível, da razão.

Considerando a definição e as notícias de nosso tempo, sobretudo, aquelas que falam dos nossos políticos, proponho mudar o nome oficial do país para República Surrealista do Brasil.

Vejamos alguns exemplos do que tem ocupado a classe política nos recentes tempos:

Os vereadores de Campinas aprovaram uma moção "contra a inserção de questão de temática de ideologia de gênero, por meio de pensamento de Simone de Beauvoir, na prova do Enem de 2015". 

Os parlamentares se revoltaram contra uma questão Enem que trazia a seguinte afirmação da escritora e filósofa feminista Simone de Beauvoir "A gente não nasce, mas se torna mulher." 

Não bastasse isso, em junho, a Câmara de Campinas proibiu o Executivo de incluir o tema das discussões de gênero, de maneira direta ou indireta, no currículo escolar da rede municipal. 

Tão progressistas, não?

E o que falar daqueles que vivem em Brasilia? Vejamos alguns exemplos.

Heráclito Fortes (dep. fed. PSB-PI) quer que os ventos sejam patrimônio da União, para o Estado receber royalties a partir da geração de energia eólica.

Gilberto Nascimento (dep. fed. PSC-SP) quer que doadores de sangue tipo O sejam privilegiados e tenham dois dias de folga do trabalho. Os demais tipos só teriam um.

Luiz Nishimori (dep. fed. do PR-PR), defende isentar de impostos de importação, Cofins e ICMS todos os artigos voltados para a prática de golfe.

Esses são risíveis, porém há os preocupantes, como o projeto de lei que cria o Estatuto da Família, o deputado federal Diego Garcia (PHS-PR) aprovado em comissão especial da Câmara, que define como família a união entre homem e mulher por meio de casamento ou união estável, ou a comunidade formada por qualquer um dos pais junto com os filhos.

Soma-se a arbitrariedade do Dep. Eduardo Cunha e sua  PL 5069/2013, que tipifica como crime contra a vida o anúncio de meio abortivo e prevê penas específicas para quem induz a gestante à prática de aborto. É certo que tudo o que gira em torno do aborto é polêmico, mas imagine uma mulher estuprada, como ocorre 50.000 vezes por ano no Brasil, que vai ao hospital pois sente dores e teme ter engravidado do estuprador. Pois bem, se aprovada a lei, ao chegar ao local, não poderá ser atendida sem antes ter ido a uma delegacia e registrado boletim de ocorrência. O que o projeto de lei propõe que a mulher se sujeite ao constrangimento de um narrar o traumático episódio para um delegado antes de buscar orientação e cuidados médicos. 

Outro tema polémico é o da PEC (proposta de emenda constitucional) 215/2000, do Dep. Almir Sá, que propõe transferir do Executivo para o Congresso a atribuição de reconhecer Terras Indígenas, Unidades de Conservação e Territórios Remanescentes Quilombolas. Ela deve paralisar pelo menos 228 demarcações de Terras Indígenas e é considerada inconstitucional. A PEC foi aprovada em Comissão Especial da Câmara e agora a matéria segue para o Plenário da Câmara e posteriormente para o Senado.

Uma visita ao site da Câmara dos Deputados permite conhecer os projetos de lei em tramitação e participar de enquetes ( http://www2.camara.leg.br/enquetes/listaEnquete). Já que elegemos represetantes tão conservadores e aplicados em defender seus próprios interesses, o mínimo que podemos fazer agora é pesquisar e nos manifestarmos quando algo nos soar escabroso.




terça-feira, 13 de outubro de 2015

Para não dizer que não falei das flores

Assim como o Rio de Fernanda Abreu, São Paulo é uma cidade de cidades misturadas.

Num breve passeio pode-se ver, dentro do ar cinzento, um coalhado de arranha-céus modernos mesclado com casinhas antigas que ainda resistem, um trânsito que comporta carrões zero quilômetro e outros já muito bem rodados, motos e bikes. E nas calçadas gente apressada, distraída, sorridente, carrancuda. Enfim, Sampa é múltipla.

E, como diria, Vandré, para não dizer que não falei das flores, múltiplas são as cores que a natureza, mesmo perdida em seus ciclos por conta das mudanças climáticas, nos oferece a cada estação.

Repare, na primavera que ora vivemos é tempo dos Resedás gigantes e dos miúdos com seus cachinhos fúcsia, dos lilases muitos dos Jacarandás, da amarelitude das Sibipirunas,  dos buquês de Jasmim-Manga cheios de romantismo, dos Flamboyants imensos e, também, do rosa dos Ipês em despedida.

E isso tudo só na primavera, depois a cidade ganha as cores das Paineiras, Quaresmeiras, Cerejeiras e outras tantas para adornar a agitação de seus dias.

São Paulo é caótica, mas linda, florida e colorida. Basta querer ver além do cinza!





sábado, 17 de janeiro de 2015

G minúsculo

O Governador Geraldo Alckmin, do seu jeito politicamente ensaboado de ser, finalmente admitiu que há racionamento de água no Estado de São Paulo. Ele chama de restrição hídrica. Uma fofura esse nosso governador, não?

É impressionante a cara de pau desse senhor, que se fez de morto durante todo o ano de 2014 e não fez nem esboço do que seria uma gestão hídrica minimamente adequada à situação em que se encontram nossos reservatórios. Para não comprometer sua reeleição, buscou água da reserva técnica, cujo apelido, volume morto, causa péssima impressão. Agora, o presidente da Sabesp diz com todas as letras que a água do Sistema Cantareira pode acabar em 3 meses.

Bem, já passamos da fase da crise,  o caos está aí! Com governo pífio ou não, todos nós temos um problema gravíssimo para resolver. Apenas reclamar do Picolé de Chuchu não nos levará à nada. Então, eu te pergunto:


  • Você vai continuar a lavar seu carro frequentemente. E se for, já pensou em alternativas que consumem pouquíssima água? Quando o meu está em estado lamentável, desço até a garagem e faço o serviço utilizando no máximo meio litro de água. Se quiser saber como, me pergunte.
  • O que tem feito com a água que a lavadora descarta? E com que frequência a liga?
  • Já colocou uma bacia grande no box para coletar a água do banho e com ela dar inúmeras descargas no vaso sanitário? E tem conseguido diminuir o tempo do banho?
  • Tem coletado as águas das chuvas? 
  • Se mora em condomínio, há discussões sobre o assunto? Se não, o que você pode fazer a respeito?
  • Se mora em casa, como a vizinhança tem lidado com a situação e o que você pode fazer para coletivamente diminuir o consumo?
Enfim, devem haver mais uma centena de perguntas a se fazer e muita mudança de hábito a se empreender. E a hora de começar não é agora, foi ontem.

Mas, ainda é tempo. Bora lá!!!


Pintura: Nicole Barker