sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Personagens da Pandemia

Desde março, quando o Coronavírus cruzou oceanos e a linha do equador, nossas vidas tropicais foram duramente impactadas. Num país com gosto pela rua, pela festa e pelo toque físico, o baque foi grande. De repente, eis que a ordem era ficar em casa, não mais apertar mãos, não mais abraçar, não mais visitar. Aquele passa lá em casa, vamos tomar uma ali no boteco da esquina foi abruptamente trocado por retângulos na tela do computador. Para quem tem um em casa, claro.

Lá no início havia uma certeza de que em um mês estaríamos de volta à normalidade, mas logo se percebeu ilusão e aos quatro cantos começou a se falar no novo normal. Confesso que essa expressão me parece um tanto estranha, afinal se é normal, já não é novo, mas enfim, a gente precisa de algo para acreditar, mesmo que não se saiba exatamente o que signifique.

O fato é que projetos foram novamente adiados, outros cancelados, alguns [talvez] esquecidos. E nessa onda fomos descobrindo novas habilidades e de um jeito ou de outro, nos reinventando. A vida foi ficando cada vez mais remota. A aula da menina da casa ao lado, as reuniões, as celebrações. E as Lives, não se pode deixar de falar delas. 

Parece que a gente foi dando um jeito de viver o que vivia antes de formas diferentes.  E claro, aqui estou falando de um recorte da sociedade, desse pedaço privilegiado, do qual eu faço parte, que pode fazer home office e não precisa se arriscar no transporte público para chegar ao trabalho. Aliás, de certa forma, essas pessoas também tem seus privilégios, afinal não figuram na lista de desempregades. Que país é esse em que ter trabalho é apanágio?

Mas, voltando à quarentena, tudo era visto como temporário, afinal mais uns dois meses tudo voltaria ao normal (ah! o normal). Eis que o tempo passa, as folhas do calendário foram viradas mês após mês e cá estamos vendo Papais Noeis na TV e panetones nas lojas.

E enquanto a gente foi se ajeitando e se reinventando, muita gente foi perdendo a casa, o trabalho e, tristemente, a vida.

Mas, e a economia? É preciso reaquecer a economia!!! Vamos flexibilizar, afinal as pessoas precisam trabalhar. E aos poucos, o que era flexibilização virou um liberou geral. Praias foram tomadas em feriados, bares encheram nas noites das Vilas e Leblons. 

Enquanto isso caminhamos a passos largos para 6.000.000 de casos e 200.000 mortes. Além dessa tristeza que são as partidas, há que se falar da taxa de desemprego em alta contínua.

E agora que a taxa de transmissão volta a subir e os leitos de UTIs ficam perto do limite da sua capacidade, o fantasma do lockdown volta a assombrar.

Nesse cenário eu olho para o futuro e vejo cada vez mais distantes os abraços e os sorrisos descobertos. E sei que tem muita gente com percepção e sentimentos semelhantes. Mas, muitas outras que se mostram alheias aos riscos ou imunes a eles. E pensando nisso, percebo que nos dividimos em categorias. Aqui e ali podemos reconhecer esses personagens. Vamos a eles!

Consciente: É aquela pessoa que só sai de casa mesmo quando há real necessidade e quando o faz, usa máscara, álcool em gel e segue todos os protocolos recomendados pela OMS. Além disso, atravessa a rua quando vê alguém sem máscara e tenta convencer as pessoas sobre a importância da prevenção. Muitas vezes, volta para casa de mal humor em virtude do que vê.

Nessa categoria, claro, há exageros. Já vi em dia quente gente usando capa até os pês, luvas, máscara e escudo facial. Fico até com dúvida se é consciência ou só medo.

Ignorante: Aqui incluo as pessoas que embora tenham acesso à informação, muitas vezes tem dificuldade de compreender a gravidade. Coisa de cognição mesmo. 

Insensate: Vejo menos como personagem e mais como um desvio temporário de alguém Consciente, que pelo aperto no peito que a saudade traz, dá uma escapulida para ver amigues e/ou família. Sabe aquele almoço de domingo, aquela happy hour, coisa rápida com gente conhecida e que se cuida, vai ficar tudo bem. Então, até pode ficar tudo bem, mas também não pode.

Estupide: Para mim essa personagem é a mais perigosa, pois entendo que sabe dos riscos para si e para as outras pessoas e mesmo assim se recusa a usar máscara e a não aglomerar. Na minha percepção se trata de gente que conhece muito bem o próprio umbigo, pois a ele está sempre a olhar. Nessa categoria, há também quem pense como o ocupante do Palácio do Alvorada: Se Coronavírus realmente existir, provoca só uma gripezinha.

E você, vê mais alguma personagem? Se sim, comenta aí!!!




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