Ainda um pouco confusa e desconfiada de que estava vendo e ouvindo coisas, abri a porta. Sem cerimonia o gatão entrou e iniciou a inspeção de cada cômodo da minha casa. De quando em quando ele parava olhava para mim e soltava um miado que praticamente dizia: quem é você?
Assim começou uma linda e breve história de amor. Um amor de verão!
O Tigrão era o gato que vivia no apartamento vizinho e, aventureiro, descobriu que era possível, por uma passagem minúscula, conhecer outras paragens, no caso, minha casa. E fazia isso diariamente. No início ficava poucas horas e com o passar do tempo voltava para seu apartamento apenas para comer e fazer as necessidades. Comigo ele vivia só os prazeres, as obrigações ele deixava para os tutores.
Durante o dia ele se esparramava na varanda, nos meus pés, em cima do teclado do computador, enfim, exercia seu direito de gato e ficava onde bem lhe desse na veneta felina. À noite, ele permitia que eu dormisse em minha cama. Tão generoso, o Tigrão! E eu ficando super apaixonada por aquela bola ruiva de pelos macios.
Porém, certa vez, tive que viajar e quando retornei, ele estava bem bravo comigo, ficou dias sem aparecer e não deu muita "bola" quando fui visita-lo. Aos poucos ele foi me perdoando e voltou a frequentar minha casa.
Mas, durante o período que fiquei fora, os donos dele também viajaram e ele se sentiu abandonado, mesmo tendo quem fosse lhe dar comida. Resultado: adoeceu e por mais que eu tenha cuidado dele, em pouco tempo eu o vi partindo.
Foi num dia de fevereiro, ele estava na casa dele e eu fui visita-lo. Entrei no apartamento dos vizinhos e lá estava o Tigrão, magro, abatido, com apenas um fio de vida. Aproximei-me dele e acariciando sua cabecinha disse, meu querido. Com dificuldade ele levantou um pouco os olhinhos e na sequencia os fechou para sempre.
Essa história aconteceu há cerca de 8 anos, mas ainda hoje sinto falta daquele gatão que ficou perto de mim pouquíssimo tempo, mas marcou a minha vida.
Hoje, ele deve ser um gato-anjo e cuida de mim de onde estiver.