quinta-feira, 4 de abril de 2013

Coexistência

É visível o aumento do número de pessoas que adotaram a "Magrela" como meio de transporte e é bacana perceber que a cidade de São Paulo está abrigando cada vez mais ciclistas.

Temos um transito intenso, feroz, mal sinalizado e não preparado para a diversidade de meios de transporte presente nas ruas. São carros, caminhões, ônibus, SUVs, motos, carretos com tração humana, bicicletas e até alguns que se aventuram de patins e skates.

Essa falta de preparação tem vitimado muitas pessoas, sobretudo aquelas que ficam mais expostas, entre elas os ciclistas.

Recentemente tem sido muito comum se deparar com a noticia de um acidente envolvendo veículos automotores e bicicletas. E o crescimento dessa estatística começa a criar uma guerra de acusações de parte a parte. Os ciclistas se sentem desrespeitados em seu direito de decidir como se locomover e os motoristas, já acostumados a lidar com as motocicletas (mais ágeis e velozes), se vêem tendo que aprender a se comportar num trafego que agora envolve os bikers. E o poder público parece estar perdido, quase inoperante, tendo pouquíssimas ações voltadas à questão. Uma delas são ciclofaixas que funcionam nos domingos e feriados, porém, servem mais ao lazer e menos como alternativa de transporte.

No paragrafo inicial utilizei o verbo abrigar, pois ainda há uma longa jornada de conscientização para que se possa fazer uso do acolher. É de acolhimento que precisamos e quando digo isso, não me refiro apenas aos ciclistas. Todos os atores de nosso trânsito precisam de acolhimento, esclarecimento, envolvimento, sensibilização.

Acredito que não basta oferecer o recurso como as ciclofaixas e ciclovias. É preciso de uma campanha que dê voz a todos que circulam pelas ruas da cidade com seu meio de transporte escolhido.

Percebo que se nada for feito, em breve estaremos imersos num clima de ódio e intolerância, criando frontes e fomento a uma guerra em um campo que pede convivência pacifica.

É preciso equipar as ruas e ensinar a usar esses equipamentos. Vivemos numa cidade em que poucas pessoas sabem fazer o uso de uma rotatória, por exemplo. O que dizer, então, sobre um veículo motorizado ultrapassar um ciclista. Falando por mim, quando estou em meu carro, fico atenta, mas não sei ao certo como proceder quando à minha frente segue uma bicicleta. E, nas poucas vezes, que me aventuro pelas ruas à duas rodas sinto uma tensão imensa que me tira o prazer das pedaladas.

Admiro as pessoas que tem essa coragem de abandonar os carros, mas também entendo aqueles que preferem estar motorizados. Acredito que há espaço e possibilidade de convivência harmoniosa, mas para isso teremos que cuidar para que esse clima de animosidade crescente não transforme em inimigos quem hoje está nas ruas.

Acredito que o Poder Público tem papel importantíssimo que vai desde a construção de ciclovias permanentes, adequação da sinalização, criação de campanhas de educação de transito que falem a todos: motoristas, motociclistas, ciclistas, etc.

Mas, deve partir de nós o exemplo. É preciso sempre lembrar que quem segue à nossa frente, ao nosso lado, atrás é GENTE, é VIDA que dever ser respeitada, acolhida. Se esquecermos disso, iniciaremos uma guerra, mais do que isso seremos parte dela.

Confio na possibilidade de coexistência pacifica e colaborativa. Depende de nós, da consciência, da amorosidade e da firmeza quanto à exigência dos nossos direitos junto ao Poder Público.




quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

São Paulo, é preciso!

São Paulo é como o Rio de Fernanda Abreu, uma cidade de cidades misturadas, cidades camufladas.
É preciso olhar agudo para além das ruas coalhadas de carros, motos, bicicletas, catadores com seus carinhos e cachorros.
É preciso mente aberta para compreender as tantas gentes que habitam os baixos dos viadutos e se reviram o lixo a cata de tesouros de alumínio e papelão.
É preciso olhos doces para se encantar com as flores que resistem ao concreto e embelezam ruas.
É preciso ouvidos livres para se deliciar com a infinidade de sotaques, línguas, cantos que povoam os ares
É preciso uma parada para ver a correria das avenidas: terno, jeans, saltos, tênis circulando apressados nas calçadas, no Metrô, atrás dos ônibus.
É preciso respirar o ar dos parques, praças e ruazinhas escondidas sobre a copas de velhas árvores.
É preciso caminhar pelos bairros, reconhecer vizinhos e sorrir.
É preciso paciência até que o verde acenda e enquanto vermelho está, olhar para os lados e abrir-se para as surpresas. É quase certo que alguma surgirá.
É preciso andar de ônibus e observar o vai e vem um pouco mais do alto.
É preciso provar os sabores que se espalham em bandeiras que tremulam o orgulho dos migrantes,  imigrantes e passantes.
É preciso pelo menos uma vez cruzar do extremo sul ao extremo norte, que segundo o Google somam 80 km. E fazer o leste - oeste que tem distância menor, mas ainda é uma enormidade.
É preciso comer pastel de feira com caldo de cana.
É preciso ver futebol nas ruas, nos estádios. E, também, os outros esportes menos populares, mas que cativam muita gente.
É preciso conhecer os pequenos teatros que dão espaço a grandes e desconhecidos artistas.
É preciso ir aos cinemões e cineminhas. Ver filme e depois sentar no boteco da esquina e ver a diversidade desfilar.
É preciso cruzar as marginais de madrugada só pelo prazer de não parar (mas, não dá para garantir).
É preciso circular pela cracolândia e valorizar a própria vida. E lá aproveitar para ver a discrepante beleza da Sala São Paulo, Pinacoteca e Estação Pinacoteca, Museu da Língua. Por ali, vale um passeio observador no Parque da Luz.
É preciso dizer bom dia, boa tarde, boa noite a toda gente sem esperar resposta, pois quando um sorriso cruza com o seu é dádiva, efémero e eterno encontro.
É preciso sair na janela vez ou outra e ver o quadro vivo mudar a cada instante.
É preciso curtir as mudanças da paisagem pela janela do carro.
É preciso ver arranha-céus sombreando teimosos casarios.
É preciso andar pelo velho centro de edifícios quase centenários, como o imponente Martinelli.
É preciso acompanhar os passos lépidos de quem se arrisca às compras na região do Mercadão e ao andar vidrado de quem prefere a Oscar Freire.
É preciso conhecer as grandezas e as miudezas. As aparentes e as escondidas.
É preciso ser arguto para ler as entrelinhas da metrópole.


Vista do patio do Liceu Sagrado Coração de Jesus, em plena cracolândia.
O céu dramático foi presente de São Pedro no final de um dia de trabalho.