quinta-feira, 2 de abril de 2020

Normalidade

Tenho ouvido, falado e refletido sobre como será quando as coisas voltarem à normalidade.

Mas, me pego a pensar sobre o que consideramos normal?

Naquele cenário pré-pandemia, normal era a desigualdade, trabalho precarizado ou análogo à escravidão e difícil acesso a serviços essenciais como saúde e educação a quem está na base da pirâmide, o que se refletia em altos índices de pobreza, num moto contínuo de “o de cima sobe, o de baixo desce”, como diz a música.

Além disso, na tal normalidade o consumismo é incentivado, o mais é melhor, o se não tem para todo mundo, bora lá garantir o meu, seja o álcool em gel ou o pacote de arroz. E o pior de tudo: o conformismo faz com que se aceite as coisas como elas são. E olha o moto contínuo de novo aí gente!

Naquele normal de antes era correria, muito trabalho sem significado, pressão vivida em prédios de vidro apinhados, ruas lotadas de pés e carros apressados, poluição de todo tipo.

Era mais tela que pele, relações líquidas como dizia o Zyg.

Tinha preconceito, discriminação e violência.

Normal era fechar as portas para refugiades que não sucumbiam aos barcos que adernavam. Normal, aliás, se tornaram as guerras e a fome.

Antes do Coronavírus e de suas consequências, também havia muitas coisas bacanas acontecendo. Mesmo que inserido no sistema, havia e ainda há, um movimento que busca quebrar essas correntes da normalidade aprisionante e tóxica. Talvez essa parada seja propícia para que nos movimentemos e passemos a sentir as correntes que nos prendem. Rosa de Luxemburgo se orgulharia de nós.

Então, qual é o próximo normal? O que você, eu e todes podemos fazer agora que estamos em isolamento e a dimensão do tempo parece ter mudado.

Que “normal” queremos criar?

Que correntes queremos quebrar?

Que muros queremos derrubar?

Que pontes queremos construir?

Com nossas individualidades presentes e fortes, que coletivo podemos formar?

Operários - Tarsila do Amaral - 1933

8 comentários:

  1. estou escrevendo algo bem na linha, em completa sintonia! :) bjs e obrigada

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  2. maravilhoso uma autocritica aos modelos ditos normais,porém excludentes e hipócrita.Uma critica ao egocentrismo que alimentamos e acreditamos ser normal.

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  3. Oi Sandra, o meu temor, desesperança mesmo, é que não tenhamos sabedoria para aprender com a calamidade que esta é uma grande oportunidade para mudar o modo de vida da humanidade.

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    1. Sinto que parte da população do planeta está atenta aos "chamados" do futuro" que pedem integração, mas ainda constitui uma pequena parcela. Sigamos, como diz Dom Pedro Casaldaliga, com fé e teimosia.

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  4. é verdade Sandra, mas a pergunta que acredito que todos se fazem é: "como será o meu amanhã, se o meu hoje eu não consigo planejar a longo prazo". A fé fortalecida faz a pessoa ter o devido equilíbrio.

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  5. Excelente reflexão Sandra! 💖 Se tem um lugar que não pretendo voltar é para o "normal".

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  6. Grande reflexão Sandra. Espero construir pontes que acolham todes nesta jornada. Estamos juntes. Bj

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