domingo, 6 de julho de 2014

A Copa de todo Mundo

Eu já acompanhei muitas Copas, a primeira que tenho lembrança viva é a de 70, embora eu fosse bem menina na época. Desde lá, são 11 competições, considerando a atual, a do Brasil que é um sucesso e está calando a boca de muita gente que vaticinou o seu fracasso.

Dentro do campo temos tido jogos emocionantes, com placares que mudam literalmente aos 45 do segundo tempo. Fora dele, discussões que ganham volume por conta da força pulverizadora que as redes sociais tem. E é sobre isso que busco refletir nesse post.

Nenhuma copa anterior teve um cenário tão propicio para que todos os que desejassem se expressar, o fizessem atingindo grande publico. E é interessante observar a quantidade de assuntos que orbitam o tema e povoam, sobretudo o Facebook e o Twitter.

Muito já se falou sobre as lamentáveis vaias à Presidenta Dilma, o cabelo dos atletas, os uniformes feitos à medida para tornear os corpos dos jogadores, os hinos cantados a capella (e a feia postura da torcida brasileira diante do momento patriótico da seleção chilena), as jogadas consideradas desleais. Enfim, assunto parece não faltar.

Essa é a Copa dos milhões de comentaristas. Todos podemos ser jornalistas, articulistas, cronistas. Todos podemos mostrar nossa opinião e dar a ela as asas para voar e alcançar muitos leitores.

Isso é ótimo! Realmente, acho maravilhoso o fato de existir recurso para que todos possamos nos expressar, porém é preciso ser criterioso, tanto para escrever, quanto para ler tudo o que é postado.

Vivemos uma época em que a velocidade de atualização das informações é altíssima, então mal processamos algo que ouvimos ou lemos e logo há outras noticias e/ou comentários. Com isso, corremos o risco de pouco ponderar sobre o que vai sendo absorvido pelos nossos sentidos. E daí, para entronizar alguém ou confiscar-lhe o reinado pode ser um processo muito rápido e superficial.

Vejamos o caso de Camilo Zúñiga, o colombiano que tirou o Neymar da Copa. Para alguns ele foi maldoso, cometeu um ato criminoso. Para outros, foi coisa de jogo. Pior que isso, muitos o julgam apenas a partir desse desastroso evento e o chamam de monstro. Como assim? Como se pode ser tão taxativo assim? Poucos tiveram o cuidado de conhecer o histórico do jogador, que até hoje em sua carreira foi expulso apenas uma vez e tem um índice baixíssimo de faltas. Mas, mesmo que ele fosse um atleta com histórico diferente,  classifica-lo apenas baseados num fato (sim, a jogada protagonizada por ele foi responsável pela vértebra quebrada no nosso camisa 10) é, no mínimo, leviano.

Há outros tantos exemplos de julgamentos e veredictos expressos feitos pela opinião pública. O uruguaio Suarez e seu comportamento reincidente e indefensável foram massacrados. Muito pouco se falou sobre como ele deve estar se sentindo e da necessidade de cuidados e atenção que esse ser humano necessita.

É preciso jamais esquecer que somos seres complexos capazes de alternar benevolência e malevolência, impulsividade e ponderação.  Eu, definitivamente, não gostaria de ser chancelada por conta de apenas uma amostra de meu comportamento.

As redes sociais são uma realidade, mas ainda não sabemos utiliza-las com o devido cuidado e respeito a imagem daqueles que elegemos como protagonistas de nossas postagens, que inclusive podem representar a nós mesmos.

Sinto que esse evento, a Copa do Mundo, pela sua imensa visibilidade e capacidade de produzir assuntos, pode ser um bom momento para refletirmos sobre todo o material que vai ao ar e exercitar a capacidade humana da empatia.

Percebo que estamos diante do gol, com uma grande oportunidade de marcar um tento importante: o uso mais consciente e ponderado das redes sociais.



Pintura: Tim Bouckley