sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Brinquedos Sonoros

Gosto da Adriana Calcanhoto. Sempre gostei. Embora, às vezes, a perceba excessivamente melancólica, aprecio a música que faz e seu jeito único de cantar.
Desde o início de sua carreira lá no ínicio dos 90, quando lançou seu primeiro disco e tinha os cabelos curtos e descoloridos. Eu gostei especialmente do 2° trabalho, cujos sucessos Esquadros e Mentiras emplacaram. A minha preferida era Água Perrier, que não é das mais populares.
Naquela época fui a alguns shows dela e lembro-me que sempre se apresentava contida. Sem arroubos, cantava acompanhada de seu violão, pouco interagia com o público. Parecia uma menina timida.Talvez fosse mesmo.
Cerca de 20 anos e muitas outras músicas depois, voltei a assisti-la ao vivo.
O show que lança o CD Micróbio do Samba é uma delícia. Adriana, acompanhada de Davi Morais (violão e cavaquinho), Alberto Continentino (baixo acustico), Domenico Lancelotti (bateria) e de uns brinquedinhos sonoros poderosos, fez uma apresentação primorosa e alto astral.
Ela cantou, dançou, fez mimica, brincou com o público e manipulou os tais brinquedinhos sonoros. Muito à vontade nos brindou com sua voz limpa, repertório gostoso e divertido. A apresentação ainda contou com uma cenografia exata e presença cênica dela e dos moços, perfeita.
A foto abaixo, embora pequena por conta da distância que me separava do palco, registra um dos bons momentos do show.
Recomendo!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Interruptor

Numa conversa ligeira com Paulo César Santos, conhecido como PC, o padre gente boa que deixou sua Bahia natal para se embrenhar nas questões sociais que ocupam o povo do Mato Grosso, fiquei sabendo um tantinho mais sobre a vida dos assentados que agora, legalmente, habitam as terras da Fazenda Bordolândia.

Desde que comecei a circular por essas terras distantes da minha querida São Paulo venho cultivando um admiração grande pelas pessoas que aqui vieram tentar melhorar de vida. Muitos progrediram, outros se “acertaram” na vida. E, além desses, considerados pequenos, há os latifundiários. E a Fazenda Bordolândia é uma dessas grandes propriedades. 

A terra de 56.000 hectares, onde há pouco mais de 12 anos aproximadamente 700 famílias se instalaram foi, transformada num acampamento de sem-terras. Gente simples em busca do sonho dourado que se submeteu a viver sob o teto negro de barracas de lona, enfrentando um calor que à sombra margeia os 40°. Sem luz elétrica e água encanada, essas pessoas foram vivendo como podiam. 

Crianças foram concebidas e paridas no acampamento, outros perderam suas vidas na luta, seja contra os interesses sobre a terra, seja por conta das precárias condições sanitárias em que viviam. Alguns, ainda, no cansaço da espera árdua se entregaram ao álcool, desestruturando as famílias já fragilizadas pela vida dura.

Enquanto estavam acampados e não tinham seu pedacinho de chão, havia união e luta pelos mesmos ideais. Mas, era a dura a convivência tão longa e estreita.

Quando o governo começou o processo de entrega dos lotes, 9 anos depois da ocupação, houve a proposta da criação de agrovilas, mas esse tempo em que a proximidade não era uma escolha, fez com que as famílias optassem por ter sua terra para ser cultivada de forma independente, erguendo suas casas afastadas umas das outras. E essas habitações, cerca de 18 meses depois de colocados os pés na terra própria, ainda são bastante precárias, mantendo a condição de acampamento no que diz respeito ao saneamento e eletricidade.

E foi exatamente, neste momento, em que o PC falou sobre a carência dessa estrutura que em mim bateu forte a percepção de que as crianças e adolescentes que cresceram no acampamento, nunca tiveram a oportunidade de chegar em casa e apertar um interruptor ou abrir uma torneira. Eu e meus cabelos brancos, sempre tivemos água e luz a partir dos simples gestos de girar a torneira ou apertar um botão. Fiquei, então, a imaginar o que podem sentir pessoas que em pleno século 21 dependem de velas, lanternas e lampiões para espantar a escuridão e de baldes para matar a sede.

Minha vida é simples, mas cheia de oportunidades e facilidades. Moro num pequeno apartamento num bom bairro de São Paulo, tenho um carro que atende minhas necessidades, viajo para conhecer outros lugares e culturas, vez ou outra permito-me ir a um restaurante bacana e lá deixar uma quantia que certamente alimentaria uma família de assentados por uma semana. É certo que trabalho bastante para manter-me e me permitir a esses pequenos mimos, mas eles também trabalham, lutam bastante para dar conta dos dias.

Acredito que a vida nos dá o que precisamos e não, necessariamente, o que desejamos e que provavelmente eu tenho o que preciso, sejam flores sejam dores e não penso abrir mão dessas facilidades conquistadas e de outras tantas que a vida me proporciona, mas sigo com uma pergunta latejando: Do que preciso realmente para viver? Do que poderia me despojar? De quais regalos que a vida me deu e dá poderia abrir mão? O que posso fazer para materializar minha gratidão por ser tão rica? O que preciso fazer para passar pelo buraco da agulha, feito um camelo bíblico?

Foto copiada do site da TV Centro América

sábado, 20 de agosto de 2011

Sol e Fumaça

O sol vai preguiçosamente em direção ao hemisfério norte, deixando um lindo rastro laranja como presente de despedida do dia. Nesse cenário, a voadeira segue o Araguaia acima, vincando a água que reflete a mistura que se faz do poente com a fumaça que é fruto da queimada que arde na Ilha do Bananal.

É assim esta terra, a sintetização da incongruência, o convívio estreito do belo espetáculo da natureza – rio, mata, sol nascente, ardente e poente, mata, fauna e flora exuberante – com cenários de destruição – coivaras, desmatamento, assoreamento e poluição dos rios.

Os personagens que circulam pelas ruas da pequena e importante São Felix do Araguaia são tão diversas e idiossincráticas que requer estudo e reflexão para se começar a ter uma pálida idéia do que sociologicamente a região pode significar.

Há indígenas de várias etnias circulando à margem e dentro do rio. Os Karajás se apresentam em maior número, pois muitas de suas aldeias ficam do outro lado do Araguaia, na Ilha do Bananal, já no Estado do Tocantins porém, a 10 minutos viajando de voadeira. Alguns ainda são adeptos das pequenas e tradicionais canoas, que alongam as horas de viagem. Mas, vê-se Xavantes, Suyas, Tapirapés e tantos outros povos que tem seus assuntos com a sociedade não indígena. Um dos temas mais recorrentes refere-se à posse das terras que na década de 60 se transformou em latifúndio por força de interesses econômicos e políticos, mesmo com decisões governamentais a favor que datam mais de 15 anos, vivem uma intensa luta para voltar a seus territórios, visto por eles como sagrados. Um dos exemplos mais claros é o Povo Xavante da aldeia Maraewatsede, cuja história já me referi no post “Vivências matogrossenses II” .

Além dos indígenas, há migrantes que chegaram para tentar nova vida e constituíram família, dando os primeiros filhos da jovem cidade fundada oficialmente em 13/05/1976. Muitos ainda vivem na roça, em pequenas propriedades espalhadas pela região que compreende outras cidades, como Luciara, Serra Nova Dourada, Alto da Boa Vista. Outros fizeram opção por viver nos pequenos centros urbanos.

Outras figuras que são facilmente encontradas são os profissionais ligados à fazendas de soja e gado. São técnicos agrícolas, veterinários, representantes comerciais e toda uma sorte de especializações necessárias aos negócios agropecuários que movimentam a economia da região. Na pequena e simples pousada em me hospedo, quase sempre sou a única mulher. A questão de gênero já provoca alguns olhares curiosos e quando sou perguntada sobre o que vou fazer naquela lonjura e respondo que conduzo uma formação para lideranças sociais a interrogação se amplia com cores fortes.

Acho que da mesma forma que não consigo compreender os motivos que leva alguém destruir um rico e belo patrimônio natural e/ou trabalhar nessa “industria”, deve ser muito difícil para eles entenderem o que leva uma moça sair de sua São Paulo e se dedicar a ser professora (é assim que muitos conseguem definir meu papel por lá) de assentados, indígenas e “essa gente das ONGS e da Igreja”. Muitos demonstram não entender minha indignação com o desmatamento e dizem que fazem tudo dentro da lei. Tento argumentar que essa destruição tem um preço alto para nós e para as futuras gerações, mas a resposta é a mesma: faço tudo dentro da lei.

Bem, vou continuar seguindo o que meu coração pede e não desistir do que ainda vejo como utopia, mas que me move na vida: um dia será possível ter clareza de quem somos nós e de quem são eles e cientes da nossa individualidade, das nossas diferenças, vamos construir um bom futuro para esse planeta. Isso tudo, de preferência, em boas e frutíferas conversas à beira do magnífico Araguaia. Com sol e sem fumaça.

Imagem obtida na margem matogrossense do Araguaia.
Dou outro lado, a Ilha do Bananal, no Estado do Tocantins

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Amarelo vivo

Sobrevoando o Brasil central, no cerradão já tão ceifado, vejo rios com seus leitos seminus, despidos de suas águas profundas pela seca típica da época.
E lá em cima, o pequeno avião segue e a paisagem pouco muda. Nos primeiros momentos do vôo vê-se elevações que exibem suas veias e pouco depois começa um plano que os olhos não conseguem ver o fim. Vez ou outra surgem, majestosas, as copas de ipês carregados de amarelo vivo. Alguns juntinhos parecem famílias unidas enfrentando o sol ardente e a secura, outros já se mostram aventureiros e ocupam sozinhos vasta área.
Vejo, também, pasto onde era mata, quilômetros de asfalto que cortam regiões, à primeira vista, desabitadas. Nessas estradas margeadas pelo pouco que resta de verde nativo, por muito tempo não avisto nenhum carro, caminhão ou ônibus. Pergunto-me, então, porque são construídas essas rodovias se parecem ser sub-utilizadas? Meu julgamento rápido dá a pista de que poucos devem ter ganhado muito com a obra. Aliás, outra pergunta me ocorre, é como seriam utilizados os tantos rios que serpenteiam essas terras.
Depois de algum tempo, o que se vê do alto vai mudando. Plantações em formato circular vão aparecendo aqui e ali e inúmeras estradinhas marcam a terra como se fossem rugas de uma pele curtida ao sol. Procuro habitações e são raras as que encontro. São distâncias imensas que separam cada construção. Outro questionamento me absorve: como será viver assim tão isolado? Para uma paulistana, acostumada à proximidade das edificações chega a dar arrepios imaginar-me vivendo no que parece ser o meio do nada.  E isso me faz lembrar que mesmo “colada” ao meu vizinho, pouco ou nada sei sobre ele. Outras distâncias.
Quanto mais se aproximam as cidades, mais vejo terra rasgada seja pela seca, seja pelo humano que cria seus caminhos em direção aos amontoados urbanos que crescem aos olhos enquanto o avião começa a descida.
Mais próxima do solo, vejo com mais clareza o quanto a natureza é resistente e persistente. São olhos  d'água que perdem seus cílios, mas não a majestade dos ipês que as margeiam. É tanta beleza e fluidez que me custa acreditar que o ser humano não consiga viver em completa harmonia com o que o planeta naturalmente dá.
Eu busco em meu coração as razões para continuar acreditando que a mão destrutiva do homem caminha para ser tão efêmera quanto a florada dos ipês.

Em algum ponto entre Gurupi e São Felix do Araguaia

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Sorocaba, uma cidade "aprendente"

92 Km separam a caótica São Paulo da cenográfica Sorocaba. No relógio a distância se traduz em cerca de 1 hora, já considerando o habitual transito intenso da capital.

A cidade nascida em 1654, 100 anos após a fundação da capital do Estado de São Paulo transformou-se num marco obrigatório para os tropeiros devido a sua posição estratégica, eixo econômico entre as regiões Norte, Nordeste e Sul. Este fluxo intenso de pessoas e riquezas promoveu o desenvolvimento do comércio e das indústrias caseiras baseadas na confecção de facas, facões, redes de pesca, doces e objetos de couro para a montaria. E essa prosperidade quase quadricentenária se revela atualmente numa cidade organizada, limpa e administrada com visão empresarial. Tem atuação destacada nas áreas de saúde e educação, sendo uma das representantes brasileiras do programa Cidade Educadora da Unesco e da rede de Cidades Saudáveis, da OMS.

Ao circular por vários cantos da cidade fiquei com a impressão de estar dentro de um bem cuidado cenário. Senti em vários momentos estar vivendo em uma realidade paralela, numa espécie de Show de Truman. O toque de realidade ficou por conta de pessoas jogando lixo na rua, de alguns dos inúmeros gramados coalhados de bitucas de cigarro e bairros distantes do centro que revelaram uma ocupação desordenada com suas casas cruas amontoadas. Porém, mesmo nesses locais pude ver equipamentos públicos tinindo de novos oferecendo à população serviços de qualidade.
E nesses cenários quase perfeitos pude assistir a apresentação de alguns personagens emocionantes, inspiradores e, felizmente, bem reais.

Vou começar pela Rosangela Cecília da Silva Alves, fundadora do Centro Cultural Quilombinho, é uma mulher forte, falante e realizadora. Por acreditar que “para existir tem que existir”, criou sua ONG há 8 anos para promover o resgate da auto-estima dos escravodescendentes através da valorização e da difusão da rica cultura afro-brasileira. Num depoimento emocionado e emocionante explicou onde nasceu o impulso de jogar luz sobre a história de seus antepassados: “Minha mãe queria que eu estudasse na melhor escola pública da cidade, tive que fazer vestibulinho. Passei e no primeiro dia de aula constatei que era a única negra matriculada, fui hostilizada pelos colegas, voltei para casa chorando e disse à minha mãe que haviam me chamado de negra. Sem hesitação ela me colocou à frente do espelho e perguntou o que eu via. Foi o espelho que me mostrou que eu tinha que fazer o que eu faço”.
“Seu Quilombinho” recebe crianças de todas as etnias, “até mesmo porque não faria sentido divulgar a cultura afrobrasileira somente para os negros, pois se trata da história do Brasil e não de um só povo”, diz Rosângela.

José Orivaldo Simonetti, um dos fundadores da ONG Piracema é um sorocabense - assim são chamados aqueles que nascidos em outras cidades, adotaram Sorocaba para viver. Idealista, deixou a carreira de engenheiro para atuar como terapeuta comunitário e liderar com seu grupo o Projeto Fazendo Futuro, desenvolvido em parceria com Prefeitura de Sorocaba, por meio das secretarias da Educação e da Saúde. O projeto prepara os adolescentes, entre 13 e 18 anos, para dar orientação aos colegas da mesma faixa etária sobre os riscos da gravidez precoce, DSTs e outros assuntos.
Simão, como é conhecido, arregassa as mangas junto com Alexandra Teixeira, Ivana de Barros, Karla Paiva Teixeira, Mariane Torregiane e José Antônio Micheletti e com seu dedicado trabalho torna possível para muitos jovens uma nova visão de mundo.

Silvia Donnini é outra sorocabense inspiradora. Nascida em São Paulo, mudou-se para a cidade há 20 anos e atualmente é diretora da Área de Gestão Pedagógica, da Secretária de Educação. Começa a conversa dizendo que Sorocaba é uma cidade aprendente. Na sua visão a cidade não pode crescer sozinha, se os municípios ao redor não se desenvolverem, compromete o progresso da região. Ela é adepta da “fazeção”, pois acredita que é no dia a dia que as inconsistências do planejamento – que ela não dispensa – aparecem e daí podem ser corrigidas.

Ela contou que o sucesso percebido no momento é fruto de um trabalho iniciado há cerca de 20 anos e que gestão após gestão preserva-se o que foi aprovado pela população, que participa ativamente das discussões. Segundo Silvia Donnini, os munícipes foram sensibilizados para não pedir para si e sim para o bairro, para o todo. Esse trabalho exitoso só é possível por se pensar na intersetorialidade, na interação e integração das várias secretárias de governo, baseadas nessa escuta do que vem do povo.

Outro ponto apontado como determinante para o sucesso é o fato de contar com um líder inspirado e inspirador, que, aliás, é assim que Silvia busca formar sua equipe. Segundo ela, “trabalhar o sonho protege”.
O tema educação na cidade é norteador de várias políticas e para isso um projeto Ecopoliticopedagógico, elaborado em parceira com o Instituto Paulo Freire, serve de guia para as muitas ações da prefeitura.
  • Educar para pensar globalmente
  • Educar para os sentimentos
  • Ensinar a identidade terrena como condição humana é essencial
  • Formar para a consciência planetária
  • Formar para a compreensão
  • Educar para a simplicidade e para a quietude
Uma da marcas da gestão pública na educação são os bem sucedidos Roteiros Educadores, uma iniciativa que valoriza os vínculos e o aprendizado na cidade, com a cidade, é um programa que leva as pessoas a uma viagem na qual história, cultura, arte e educação são apresentadas de forma lúdica por meio de um passeio a Sorocaba.

O sonho de Silvia é daqui 10 anos ser reconhecida por seu trabalho coerente e consistente e que pensou em cada uma das crianças da cidade e que não ficou “nenhum a menos”.

Além da diretora pedagógica, quero falar, também, duas diretoras de escolas municipais e o que mais me chamou a atenção é o comprometimento delas com seu público, que não se limita às crianças matriculadas e sim a toda a comunidade que vive em torno de seus estabelecimentos. Por conta do meu trabalho ligado às questões sociais já tive oportunidade de conhecer muitas escolas Brasil afora, mas confesso que espaços tão bem cuidados física e administrativamente não havia visto até então. Um deles, a Oficina do Saber, instalado num dos bairros cheios de casas simples e população de baixa renda parecia um oásis no meio do deserto. Tudo limpo, organizado e com seus gestores orgulhosos e zelosos.

E para fechar a lista de personagens, que falar de Alessandra França, uma jovem de 25 anos, com aparência frágil e delicada, mas com uma força e determinação comoventes. Da família simples e batalhadora ela herdou o olhar prático e o espírito de luta. Demonstra saber exatamente o quer para a sua vida e para os empreendedores que procuram o Banco Pérola, instituição financeira voltada ao microcrédito, que ela fundou há pouco mais de 1 ano. Trata-se de uma OSCIP Creditícia, ou seja, embora trabalhe oferecendo crédito, não visa ao lucro. O objetivo do Banco Pérola é o desenvolvimento social, dando acesso a crédito a jovens empreendedores, de 18 a 35 anos, que não conseguiriam empréstimo, devido à exigência de condições e de garantias dos bancos tradicionais. Reverente ao seu passado batizou seu negócio social com o mesmo nome do projeto que a formou e despertou o espírito de liderança. Foi difícil segurar as lágrimas ao ouvir sua história.

Aos 19 anos já era coordenadora do Sabe Tudo, espécie de Lan House pública, iniciativa da Prefeitura e gerenciada pelo Projeto Pérola, a ONG que abrigou as primeiras iniciativas da moça. Em pouco tempo ela percebeu que poderia dar passos mais ousados e a idéia do banco foi nascendo. Inspirada na experiência do Nobel da Paz Muhammad Yunus quis dar uma força para aqueles que não tem oportunidade de colocar seus sonhos em prática por falta de recursos. Atualmente, apóia cerca de 70 empreendimentos que estão mudando a vida, antes sem horizontes, de vários jovens da cidade.

Na pauta da jovem “banqueira” estão parcerias com os gigantes Santander e Caixa Econômica Federal e um plano pessoal de deixar o banco em 5 anos, para isso quer preparar seus sucessores, jovens como ela, que hoje são funcionários do banco. Sobre eles, disse: eles confiam muito em mim e isso até dá medo.

Mas, o que ela quer deixar é uma história para os outros contarem e partir para uma carreira de consultoria e facilitação. Que seja bem vinda, Alessandra.

E que seja bem vinda a vida pós Sorocaba, uma verdadeira jornada de aprendizagem que renovou minha crença na capacidade humana de fazer o bem. E bem feito.
"Missão" de uma das escolas municipais.  

Bom exemplo

Ontem pela manhã, tentava me concentrar na elaboração de um texto em meio à barulheira tipica de quem mora há poucos metros de uma grande avenida na cidade de São Paulo. A zoada estava dentro do aceitável até que britadeiras começaram sua incomoda sinfonia. Fui até a varanda para ver o que acontecia. Tratava-se de uma obra da Comgás, uma entre tantas que abrem buracos nas nossas ruas.
Porém, ali tinha algo diferente. Além de operários e suas ferramentas usuais havia 4 lixeiras disponíveis para que o lixo produzido pela equipe fosse adequadamente separado.
Curiosa, não me contive e atravesei a rua para conversar com os trabalhadores. Perguntei a um deles sobre a iniciativa e ele informou tratar-se de política da empresa. Confesso que pareceu-me que apesar do recursos disponíveis, os rapazes não entendiam exatamente qual era o propósito. De qualquer forma, a iniciativa é louvável.
Ainda instigada fui buscar informações na empresa e tive outras boas surpresas: o atendimento da ouvidoria realizado pele Nilce foi cortez e eficiente, encaminhando-me à área de imprensa. Lá quem me atendeu, também, cheia de boa vontade foi a Tatiana que confirmou a prática da Comgás.
Ainda quero saber mais sobre esse processo, como os funcionários são treinados, que tipo de informação recebem sobre coleta seletiva e reciclagem, se são orientados a levar a prática para suas casas,  qual é impacto da ação junto à população, como surgiu a idéia, quem cuida internamente e quais os frutos que a Comgás tem colhido? 
Aguardem novos posts sobre o tema, pois boas práticas merecem ser divulgadas e fomentadas.

Foto: Sandra Quinteiro

domingo, 26 de junho de 2011

Mais uma vez Mato Grosso

Sete meses depois de minha última estada em São Felix do Araguaia, voltei para começar mais uma turma do Programa Germinar. Durante a longa e sacolejante viagem não havia imaginado que a emoção me dominaria no momento de reencontrar essa terra. Porém, assim que coloquei os pés na ardente pista de pouso do aeroporto da pequena cidade meu coração quase parou, senti um nó na garganta, um aperto no peito e lágrimas brotando de meus olhos.
Debaixo do sol escaldante do início da tarde, percorri a estrada de terra até alcançar o rio que dá sobrenome à cidade. O Araguaia nos primeiros momentos da época da seca já apresenta suas praias de areias douradas. Avanço pela avenida que margeia o rio e me sinto como se revisse um velho e querido amigo.
Desde que conheci a região costumo dizer que é possível sair do Mato Grosso, mas o Mato Grosso não sai de você. E esses primeiros instantes só fizeram confirmar esse meu chavão.
Mas, não é possível falar de São Felix do Araguaia no singular, pois é uma terra múltipla, coalhada de diversidades que se revelam em cada detalhe. São indígenas de vários povos, migrantes e imigrantes, gente que está só de passagem e outros que chegam com a idéia de ficar. Difícil mesmo é encontrar alguém nascido por lá, afinal a cidade completou 35 anos recentemente, em maio de 2011.
Nessa passagem, tive a oportunidade de conviver bem de pertinho e amiúde com representantes de 3 povos indígenas: Karajá, Xavante e Kĩsêdjê (Suiá). Além desse grupo que muito me ensinou, pude saber um pouco mais sobre a vida nos assentamentos e sobre o trabalho das ONGs que atuam firmemente nas questões socioambientais
A turma do Germinar, 3a. na região, foi formada com muita fé e teimosia, como diria Pedro Casaldaliga, pelo pessoal da AXA - Articulação Xingu Araguaia. É sempre um risco esquecer o nome de alguém ao fazer agradecimentos, mas não posso deixar de me referir à incrivel força que a Vânia, Carol, Natalia, Claudinha, Ana Lucia, Lucilene e Carlos deram para que fosse possível chegar e encontrar tanta gente boa e interessada em se desenvolver e com isso contribuir com o desenvolvimento dessa terra tão necessitada de diálogo.
Não bastasse a maravilhosa experiência do Germinar, ainda tive a oportunidade de visitar a Aldeia Santa Isabel, do povo Karajá. Em território do Estado do Tocantins, na Ilha do Bananal – a maior ilha fluvial do mundo – a aldeia abriga cerca de 2000 pessoas que vivem da caça, pesca e pequenas roças. Conheci a escola, que segue o calendário dos Tori (Brancos) e introduz disciplinas que abrangem a cultura do povo. Eles falam português muito bem, mas na aldeia, entre si, se comunicam em seu idioma.
Fui ciceroneada pela simpática Waxiaki, pedagoga formada em São Paulo e é a atual diretora da escola na Aldeia. No final do giro, peguei emprestada a bicicleta da Hataiaki, irmã de Waxiaki e pedalei feito criança até voltar à margem do Araguaia e subir na voadeira que me levaria de volta à São Felix.
Pois é, estou de volta ao Mato Grosso. Feliz da vida por poder fazer minha pequena parte na revolução integradora que acredito ser possível.