sábado, 13 de agosto de 2016

O mundo de dentro da gente

Tenho observado quase em silêncio a febre do momento, o Pokemon Go. Curiosidade até tenho, mas não num nível que já tenha me feito baixar o jogo e experimentar a sensação de "realidade aumentada" que o brinquedinho parece propor. Na verdade, a preguiça é maior.

Mas, para refletir sobre as inquietações da alma humana a preguiça não me domina e parece-me oportuno olhar para dentro enquanto parte do mundo se dedica a olhar para fora em busca de monstrinhos a serem caçados e outras tentações que o mundo virtual oferta.

André Abujamra em sua música Imaginação diz que o mundo de dentro da gente é maior do que o mundo de fora da gente. Intuo que cada pessoa que está com os pés plantados nesse planetinha pode concordar com a poética afirmação. Aliás, as inquietações humanas tem sido expressadas de muitas formas, poéticas ou não. Friedrich Nietzsche, por exemplo disse Eu sou vários! Há multidões em mim. Na mesa de minha alma sentam-se muitos, e eu sou todos eles. Praticamente em uníssono Walt Whitman poetizou Eu sou contraditório, eu sou imenso. Há multidões dentro de mim. Já Manoel de Barros, em seus versos disse: Tem mais presença em mim o que me falta. E é a partir do pensamento dos nossos poetas que quero seguir com as palavras adiante.

O mundo de dentro da gente é maior do que o mundo de fora da gente (André Abujamra) e mesmo assim tem mais presença em mim o que me falta (Manoel de Barros). Esse contraponto poético é, em minha percepção, a tradução para a babel que nos habita. Há, entre tantas vozes e silêncios que nos envolvem uma necessidade de se conectar com o mundo interno, em contrapartida, há "lá fora" tantos interesses, tantos "monstrinhos" a serem caçados. Há o chamado para a meditação e para postar a foto da viagem. Há o que é interno que de alguma maneira se externaliza como forma de internalizar assim que vierem as aprovações em formas de "curtidas", comentários, compartilhamentos e top trends.

Vivemos tempos loucos em que os 15 minutos de fama profetizados por Andy Warhol, para muitos, parecem ser mais importantes que a tal "paz interior". Aliás pergunto-me: o que seria mesmo a paz interior se são exatamente as inquietações, que feito pé na bunda, podem nos impulsionar a novas descobertas? Mas, o que haveríamos de descobrir dentro e fora de nós? 

E para as descobertas é preciso intuir e intuição é essa mistura do que está dentro de nós com o contexto exterior. Mas, como encontrar a medida exata do mergulhar nas profundezas do ser e emergir na vida lá fora? O que fazer quando há tantos convites para ficar na superfície e o mergulho na essência parece tão assustador? O que será preciso para abrirmos mão do escafandro e nos lançarmos em apneia no oceano da alma?